quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Encarando a morte...
Eutanásia vem de "EU"(boa) e "THANOS" ou THANATOS(morte), boa morte, o que será que isso significa? Parece meio óbvio, e é óbvio, boa morte seria a morte com dignidade, sem sofrimento, cercado por aqueles que o amam. Algumas considerações:

1) Nossa legislação é muito vaga e atrasada no que tange a proximidade da morte. Nos é vedado deixar de prestar atendimento em caso de por exemplo uma parada cardíaca, qualquer que seja o diagnóstico e , principalmente, o prognóstico do paciente. Existem sim cuidados paliativos para evitar o sofrimento, mas até quando prolongar uma vida se o paciente tem prognóstico reservado. Oficialmente não podemos desligar máquinas, parar infusões ou deixar de ressuscitar quem quer que seja.

À espera de um Milagre
2) Devido ao grande número de cristãos em nosso meio, por causa do conceito de "milagre", deixamos pacientes terminais vivendo indefinidamente à custa de drogas e respiradores, à espera de um. Quantas pessoas tem finais de vida indignos para que uma, de vez em quando, tenha uma recuperação "milagrosa"? Isso vale a pena? Parece que atualmente, no Brasil, há uma onda de conscientização sobre o tema, bom para doentes, familiares, Estado.

Sofro só de pensar em sofrer ...
3) Será que a vontade do paciente não conta? Sei que seria logisticamente difícil conseguir este tipo de autorização de uma pessoa saudável, mas deve existir uma solução para que a vontade do paciente seja respeitada na pior hora de sua vida. Sinceramente, já falei que se eu me encontrar numa situação de morte iminente, por favor me encham de morfina e me deixem morrer em paz, próximo da minha família.
A morte de cuecas
  Existem dois tipos de morte durante uma anestesia, aquela do paciente grave, terminal, em que a morte já é esperada para as próximas horas ou dias, e a outra é aquela do paciente que entra bem pra cirurgia, e por um acidente ou falha qualquer, morre durante o procedimento. Essa última é sentida por nós, que participamos negativamente nos últimos momentos. Seria como ser pego de calças curtas...

E você, como quer morrer?
   Bom é isso basicamente, a ideia desse post é tão somente despertar a reflexão, e é basicamente a MINHA opinião, que como eu sempre digo, não vai mudar o mundo. Um abraço e até o próximo...





A morte é a curva da estrada.
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
     A terra é feita de céu.
     A mentira não tem ninho.
     Nunca ninguém se perdeu.
     Tudo é verdade e caminho
.

Fernando Pessoa
sábado, 25 de setembro de 2010
Carrinho Jullien, da Dragger
Carrinho que a gente usava na maioria das salas
   Outra coisa que estranhamos um pouco foi a riqueza do La Pitiè, um hospital da assistência pública de saúde de Paris. Conhecíamos a maioria da aparelhagem disponível, mas não estávamos acostumados a vê-los todos juntos, vindos de nossa realidade de residentes de hospital federal no Brasil, e tínhamos pouca prática em alguns deles. Alguns só fomos ver no Brasil 10 anos depois... A anestesia começava na recuperação pós anestésica, enquanto o cirurgião se "aquecia" na sala com um procedimento "menor". O doente era anestesiado, feita monitorização invasiva na RPA, e depois levado à SO com o monitor que ia ficar com ele durante a cirurgia.
   A estrutura do pré operatório também era diferente, o Hospital era quase um bairro, dividido em "blocos" ou "prédios", cada um de uma especialidade. Em cada bloco só havia a equipe de cirurgia daquela especialidade e a equipe anestésica, que faziam TODO o trabalho de pré e pós operatório, não havendo outra especialidade. Fazíamos tanto a consulta pré op. com todos os exames como o plantão na UTI pós op.
Bagunça de línguas na Torre
   Chegávamos de manhã e a SO já estava prontinha pra começar, pois mais cedo chegava o enfermeiro anestesista, uma entidade que não existe por aqui. Eles faziam a faculdade de enfermagem e mais dois anos de anestesia, eram ótimos profissionais, discutiam casos de igual pra igual com qualquer anestesista médico, e faziam a maioria dos procedimentos. Na França havia a particularidade de a anestesia ser mal paga, atraindo muitos médicos e enfermeiros de fora pois os franceses não faziam muito essa especialidade. Em nosso bloco havia romeno, belga, tunisiano, argelino e nós do Brasil de estágio, uma Torre de Babel.
Nosso cirurgião predileto.
   A maioria dos cirurgiões era tranquila, mas demos a sorte de cair no bloco da maior cavalgadura da França. O cara xingava enfermeira de "vadia", jogava pinças nas mesmas, dava esporros na anestesia, já vimos o cara despedir uma auxiliar em plena cirurgia, enfim um ser fino e iluminado. Meu colega imitava ele dando esporro com a voz do Pato Donald, dando aqueles pulos e socos no ar...
Nossa Chefe na Vascular
   Nesse sentido, a outra figura que conhecemos foi a Chefe da anestesia no bloco da vascular. Ela não nos deixava tocar em nenhum aparelho, mas no paciente não tinha problema, podíamos intubar, puncionar, invadir a vontade que não havia problema. Mas era se aproximar de uma máquina que ela falava como se conversasse com aborígenes que não mexêssemos. Devido a semelhança, apelidamos a mesma com o nome de um conhecido personagem da TV...
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Dr Hugo entrando no hospital em Paris
   Outra coisa que sentimos bastante a diferença foi a cultura do povo francês. A fama de não tomar banho é totalmente...VERDADEIRA!! Um funcionário da cia de água nos abordou no apê dizendo que provavelmente tínhamos um vazamento, pois o consumo estava muito alto. Expliquei que ali moravam 4 brasileiros, tomando 2 banhos por dia. O cara fez uma puta cara de espanto, COMO ASSIM 2 BANHOS?? Aquilo pra ele era incompreensível...
Meu chefe no Pitiè
   Outro exemplo marcante: nosso chefe tomava banho de 15 em 15 dias. Sabe como eu sei a frequência de banhos dele? O cara treinava todo dia, era maratonista. Ele chegava numa segunda feira com um cheiro suportável, que ia piorando ao longo dos dias, e em duas semanas ficava absolutamente azedo, não dava pra chegar perto que meus olhos lacrimejavam. Saíam cascas da pele do rosto do cara, pura dermatite seborréica. Lógico que não eram todos, mas os que não tinham hábito do banho marcaram. O vestiário do bloco operatório era unissex, mas antes que alguém pergunte, não, nenhuma gatinha trocava de roupa na minha frente, só as velhas fedorentas.
Pintura em uma Salle de Garde
    O horário das refeições era hilário, feito num local chamado salle de garde. Haviam cenas pornográficas em todas as paredes, até o telefone era em forma de caralho, pinturas de diretores e chefes de serviço trepando, etc. Na hora de comer, quem desobedecesse a uma de uma infinidade de regras, pagava uma prenda de uma roleta igual àquela do programa Roletrando do Sílvio Santos. Ia desde cantar uma canção até mostrar os seios ou dar um beijo na boca do Chefe do dia(ou Chefa). Tínhamos direito a apenas um prato e um par de talheres para a entrada, prato principal, queijo e sobremesa, então por exemplo, pra comer a sobremesa era só virar o prato do avesso...
Acho que alguns franceses precisam de terapia...
   Passamos alguns apertos também por causa da falta de educação do parisiense, tivemos até uma loja fechada por não conseguirmos nos comunicar com o funcionário, ele querendo falar inglês, péssimo, e nós em francês, razoável. Chegou a um ponto em que o cara se emputeceu, disse que estava fechando, nos mandou sair e arriou  a porta na nossa cara. Óbvio que mandamos ele ir se fuder e tomar no cu em todas as línguas que conhecíamos...
   Óbvio que também saíamos no fim de semana pra passear, visitamos Barcelona, Munique, Genebra, Amsterdam, Brugges, mas o passeio mais bacana que fizemos foi ao Mont Saint Michel e Vale do Loire, de carro. Imperdível.
Mont Saint Michel
Vista da chegada

um dos ambientes
   O Mont Saint Michel é o monumento mais visitado da França depois da Torre Eiffel, é um antigo convento, que passou a ser prisão. Hoje é uma cidadela medieval com lojas, hotéis restaurantes, etc, sendo que a noite a maré subia e ficávamos ilhados. Só indo pra ver...Até a parte III e final!!
  
domingo, 19 de setembro de 2010
La Pitiè Salpetrière
   Tive o privilégio de fazer um estágio de 4 meses no Hospital La Pitiè Salpetrière, em Paris, no ano de 1999. Era uma espécie de convênio que minha Residência, a Federal do Rio de Janeiro mantinha com o serviço deste e o H. Saint Antòine. Eu e meu colega de residência ficamos no La Pitiè e havia mais um casal conosco, que se dividiram por outros dois hospitais da cidade. O estágio era em anestesia para transplante hepático, mas ficamos também um pouco no serviço de cirurgia vascular de grande porte. Esse foi o momento que mudou minha vida, pois essa super especialização me levou num rumo pra fora do Rio de Janeiro na volta pro Brasil.
Dr Hugo desembarca em Paris
   Morar fora trabalhando dentro de sua profissão é uma experiência que não conta só profissionalmente, é uma experiência de vida, algo que, mesmo trabalhando de graça como foi nosso caso, é tão enriquecedor que deveria ser obrigatório. Dificuldades sempre existem, já dentro do país, imagine fora. Barreiras culturais, de nível tecnológico, da língua são as principais. O nível técnico era bem parecido, estudávamos nas mesmas fontes, mas a disponibilidade de material de um país de Primeiro Mundo não se compara com os hospitais que eu estava acostumado. Era o próprio tupiniquim desembarcando na metrópole.
Eu apanhando da língua francesa no Mac
   Lógico que a língua foi nossa primeira pedra no sapato, embora tenhamos feito 1 ano e meio de aula particular intensiva, uma coisa é conversar com a professora, falando devagar e tal, outra é tentar falar um idioma na terra alheia, sendo que o parisiense é famoso por falar rápido e por sua falta de paciência. Tivemos dificuldade até de pedir o lanche do Mc Donalds na nossa primeira refeição, logo na chegada, simplesmente não saía...

Eu, Rafael e Humberto aguardando chamado do hospital
Quando fomos ao hospital conhecer nosso chefe, não entendemos metade do que ele falou, só a parte de onde era o refeitório. Ficamos sabendo que quando houvesse transplante de madrugada, nos ligariam em casa. Pois bem, na primeira vez que me ligaram de madrugada, não entendi merda nenhuma do que foi falado. Meu colega Rafael perguntou quem era, e eu disse que devia ser transplante, pois ninguém mais nos ligaria aquela hora. Fomos pro hospital e eu estava certo. Lógico que depois houve outra vez que ligaram tarde da noite, fomos pro hospital e era engano...

L'Amour toujours l'Amour...
Depois de um tempo fomos dominando a língua, deu até pra conversar com umas senhoritas interessantes, na língua universal do amor... Até o próximo post, parte II...
domingo, 12 de setembro de 2010
Foto minha no trabalho
A arma do sarcástico clássico que eu mais utilizo é a "auto-sacangem", isto é, eu mesmo me sacaneio antes que mais alguém o faça, de forma melhor ou mais humilhante. Este post é sobre isso...Afinal, pra que a gente serve, na visão do cirurgião:

É preciso uma faculdade para ajeitar um foco
1) Arrumar o foco cirúrgico: Pra ilustrar , uma piadinha. Num vôo qualquer uma comissária de bordo passa correndo entre os corredores desesperada, aos berros "Por favor, um anestesista, por favor precisamos de um anestesista urgente..." Bom, um anestesista a bordo estranhou o chamado, geralmente chamavam um médico, sem escolher a especialidade. O anestesista levanta o braço e fala "Oi, aqui, eu sou anestesista..." A comissária, aliviada, então explica "O senhor poderia comparecer à primeira classe?" O anestesista se dirige ao local indicado e encontra um senhor lendo um jornal, não parecia estar passando mal, "oi, pois não, eu sou anestesista".O senhor fala "Olá, sou cirurgião, você poderia arrumar o foco de luz bem aqui no meu jornal?"

Qualquer um pode fazer o que o anestesista faz
2) Ler jornal, resolver palavras cruzadas: Caro amigo, se você é cirurgião, é muito ocupado e não tem tempo para se atualizar, seus problemas acabaram. É só perguntar praquele otário sentado atrás do campo, ele lê jornal o dia inteiro, não tem o que fazer durante a cirurgia muito menos tem qualquer importância prática. Pergunte pra ele e mantenha-se atualizado...

O que seria de nós sem café?
3) Tomar café o dia inteiro: Seguindo a linha de raciocínio do cirurgião clássico, como não temos o que fazer depois da indução anestésica, sabemos onde se encontra o melhor cafezinho do centro cirúrgico. Outra piadinha infame: Se você quer saber a especialidade de um médico, faça como Sherlock Holmes e olhe para seus pés: Se estiverem sujos de sangue, é cirurgião, se estiverem sujos de gesso, ortopedista; limpinhos, é clínico e sujos de café, anestesista...


Dr Hugo em campo

4) Contar piadas e divertir o cirurgião: Essa é minha especialidade, sou conhecido por meu humor cáustico. Mas em minha firma tenho um sócio que tem o dom da imitação, de tudo e todos. É diversão garantida. Então se você cirurgião estiver triste, peça para o anestesista te atualizar nas últimas piadinhas da internet...

5) Por fim, atualizar seus investimentos em bolsa de valores, por exemplo: Dizem que não existe ser humano mais ganacioso que o anestesista. Para ilustrar: Como esconder uma nota de 100 dólares de:
a) Um clínico: Não precisa esconder, ele não sabe como é.
b) Um ortopedista: Ponha num livro, ele nunca achará.
c) Um cirurgião: Ponha no leito do paciente, ele não vai lá.
Esses anestesistas só pensam em grana...




d) Um anestesista: Não adianta esconder, ele sempre acha.




"Entre infindáveis horas de tédio, é nos minutos de sufoco que o anestesista faz valer seu salário..." - frase de um cirurgião desconhecido.



quarta-feira, 8 de setembro de 2010
True Blood, série americana de sucesso

   Ainda vou escrever sobre minhas convicções (não) religiosas, mas este texto é especial para uma religião que se relaciona diretamente com a medicina, a dos Testemunhas de Jeová. Se você os conhece somente pelo hábito de bater de porta em porta "pregando", saiba que a religião tem como um de seus dogmas a proibição de receber transfusão de quaisquer derivados sanguíneos, como concentrado de hemácias, plasma, plaquetas, fatores de coagulação no caso de hemofílicos e etc. Quem me conhece sabe que não tenho absolutamente nada contra qualquer tipo de religião, orientação sexual, opinião, desde que não influam em minha vida e meu trabalho, pois minhas opiniões e convicções não o fazem.
   Mas porque deste posicionamento? Trata-se de uma das interpretações que a bíblia dos cristãos oferece, exemplo:
 Levítico 7:26, 27   "E não deveis comer nenhum sangue em qualquer dos lugares em que morardes, quer seja de ave quer de animal. Toda alma que comer qualquer sangue, esta alma terá de ser decepada do seu povo.





Outro exemplo:
"As Testemunhas mencionam ainda que esta lei de Deus sobre o sangue não deveria ser desconsiderada nem mesmo numa emergência. Lembram que alguns soldados israelitas, em certa crise em tempo de guerra, mataram animais e ‘foram comê-los junto com o sangue’. Apesar de parecer uma questão de emergência, ainda assim considerou-se esse acto como pecado contra Deus. (1 Samuel 14:31-35)"
   Não precisa ser um gênio pra saber que esses livros foram escritos numa época em que não havia transfusão de sangue, então a interpretação específica desta religião dita esta regra específica. Algumas considerações:
1)  A medicina tem muito a agradecer a essa religião, pois esta proibição nos levou a uma excelente casuística de anemias agudas e hematócritos muito baixos, que a medicina achava incompatíveis com a vida. Além disso, os seguidores tem apoio logístico e legal sempre procurando a não transfusão.
2)  A transfusão piora TODOS os prognósticos de uma internação, como mortalidade, infecção, tempo de UTI, tempo de internação, entre outros, então é boa conduta administrar esses componentes em caso de real necessidade. 3) Em minha opinião, alguém pode decidir o que quer para si, por menos que eu concorde, mas não pode decidir por UMA CRIANÇA, pois esta ainda não tem religião definida, apesar de ser filho de religioso.
Quem na bíblia falou sobre transfusão?
Sou absolutamente contra transfusão sem necessidade, mas temos que nos guiar por razões médicas, e não por um livro que foi escrito por alguma tribo do deserto da Palestina há trocentos mil anos atrás. Assim como respeito a qualquer religião, acho que deveria haver respeito pelo que estudamos e somos preparados pra fazer. Resolução  CFM número 1021/1980 diz que em caso de não haver risco de vida, respeitar-se-á a vontade do paciente, não se pratica a transfusão. Caso contrário, em risco de vida, não se deve omitir socorro, pratica-se a transfusão.
Geralmente, quando há um paciente desta religião em cirurgia eletiva em que HÁ POTENCIAL DE TER-SE QUE PRATICAR A TRANSFUSÃO, me recuso a atender o paciente, pois o CFM nos dá esta prerrogativa. Nunca tive um caso de morte iminente em paciente desta religião, mas faria de TUDO para salvar sua vida, pois assim aprendi na faculdade.
Dá pra tirar férias da religião?
   Casos engraçados que já aconteceram comigo, como sempre. Uma vez, a equipe em que trabalhava no Rio dispensou um paciente desta religião, dizendo que não faria sua anestesia pois ele COM CERTEZA não escaparia de uma transfusão. O cara foi embora puto da vida. Um tempo depois ele volta com a esposa dizendo que iria fazer a cirurgia. Perguntei sobre a transfusão. O cara me responde QUE ELE TIROU FÉRIAS DA RELIGIÃO, que faria a cirurgia depois voltaria...Não tive como não rir...
Doutor, o senhor sabe manter um segredo?
  Em outras vezes, várias delas, os pacientes, em segredo, nos falam: "Doutor, se tiver que fazer essa merda, faça, MAS NÃO CONTE PRA NINGUÉM, VIU..." ou seja, o problema destes não é a fé, é a CONGREGAÇÃO ficar sabendo...
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Então qual seria o uso medicinal da canabis? E seus efeito adversos? Vamos começar por estes:
pequena amostra do uso dos canabinóides...
  1. Sedação/sonolência
  2. Boca seca
  3. Físicos: Visão borrada, taquicardia, hipotensão, fadiga e incoordenação
  4. Psíquicos: Prejuízo psicomotor, cognitivo e de memória, limitada concentração, ansiedade e pânico, psicose aguda e paranóia.
  5. Vício. Aqui cabe uma consideração: sempre se ouve falar que a Canabis é a "porta de entrada" para outra drogas. Se refletirmos sobre dados estatísticos, temos: Todos que usam cocaína(por exemplo) começaram pele maconha, certo?Certo, mas mais de 80% das pessoas que usaram canabis e mantiveram o hábito, USARAM APENAS CANABIS pelo resto da vida, ou seja, ela pode levar ao uso de outras drogas ou não.
  Agora suas vantagens:

Como prescrever a canabis?
  1. Dor aguda pós operatória: Resultado discreto
  2. Tratamento de náuseas e vômitos, principalmente nos pacientes oncológicos (câncer) com vômitos por quimioterapia refratários às drogas usuais.
  3. HIV e Alzheimer: náuseas e retorno do apetite (a popular "larica" ou "lombra")
  4. Outras: Glaucoma, Doença de Chron, doença de Gilles de La Tourete, lesões medulares, insônia, esclerose lateral amiotrófica, emagrecimento.
  5. Dor crônica: Fibromialgia, dor neuropática
Pela nossa legislação, ter um pé é crime...
Fica a dúvida de como fazer sua prescrição. Atualmente é impossível aqui no Brasil, pois só a encontramos na forma que todos conhecem, ou seja, uso inalatório e na mão de traficantes. Em alguns países já há medicamentos baseados na canabis, mas aqui ter UM ÚNICO PÉ para consumo próprio é crime, quanto mais plantar em larga escala para estudos ou produção de medicamentos.

Que é isso , minha senhora?
É isso, o assunto é extenso, só quis aqui estimular uma reflexão que já existe em vários países e dar alguns dados que a população leiga talvez não tenha, não posso esgotar a discussão. Como já foi dito, também não é intenção estimular o  uso de qualquer droga que seja, canabis, álcool ou qualquer outra, mas cuidado, se ao ler este post você sentir uma vontade incontrolável de comer uma lata inteira de sorvete, de dar risadas e ficar com os olhos avermelhados, dirija-se a Unidade de Saú...dirija-se a rede mais próxima e deita, cara...
Dunga chapado...


domingo, 5 de setembro de 2010



E nós nos vingamos...
sábado, 4 de setembro de 2010
Com vocês, a nossa vilã...
   Esse post obviamente nos leva a pensamentos e comentários hilários, mas tentarei ser o mais sério possível. Ele trata do uso da canabis, mais conhecida como maconha. Todos os dados técnicos dos dois posts são de Marcos Borges, chefe do serviço de Terapia antálgica e cuidados paliativos da Universidade de Botucatu, que fez uma excelente revisão e aula, quem quiser depois mando o aquivo.
   Um pouco de história:
   Maconha é uma droga derivada da planta Cannabis sativa, um arbusto de cerca de dois metros de altura, de origem asiática, e que cresce em zonas tropicais e temperadas. Sabe-se que a planta já era usada sob forma medicamentosa na China no ano 7000 a.C. Na Índia, a mesma era grandemente utilizada para curar prisão de ventre, malária e dores menstruais. As propriedades têxteis da Cannabis sativa fizeram com que sua fibra fosse muito aproveitada pelos romanos e gregos na fabricação de tecidos e papel. 
   O cultivo da planta foi difundido pelo Oriente Médio, Europa e outras regiões da Ásia. Na renascença, a maconha era um dos principais produtos da Europa; os livros de Johannes Gutemberg, o inventor da imprensa, eram feitos de papel de cânhamo. (fonte: artigo na net)
Proibir ou liberar?
   No final do século XIX, a planta já era utilizada como psicotrópico por artistas e escritores, no entanto, ainda era considerada um medicamento, sendo usada por muitos laboratórios farmacêuticos. 
   Começou no início do século XX, principalmente nos EUA, o processo de demonização da canabis, impulsionada pela indústria de fibras sintéticas. Era a droga dos negros, pobres, coisa do demônio. Logo deu-se sua proibição, que foi seguida pelo mundo.
   Vou falar de seu uso medicinal no próximo post, aqui queria somente abrir uma reflexão: Porque o álcool e tabaco são lícitos e a maconha não? Senão vejamos, esses são drogas psicotrópicas também, ou seja, agem em centros superiores, dão prazer e tem algum nível de síndrome de abstinência, igualzinho a canabis. No caso do álcool a abstinência é física, ou seja, pode causar sintomas como convulsão e no tabaco é mais psicológica.
Dr Hugo refletindo após ler este post...
   Então entram dois tópicos a se refletir: a liberação para uso medicinal eu acho mandatória, sob regulamentação das entidades responsáveis, como FDA americano ou Anvisa aqui. A liberação para uso recreativo, em minha modesta opinião deveria seguir as LEIS do ESTADO criadas pra isso, como já existem pro álcool ou tabaco, ou seja, proibição em caso de direção, por exemplo.
   Você já viu alguém fumar e brigar depois? Mais fácil ela abraçar um inimigo...O dinheiro da venda da canabis hoje em dia vai para contraventores, que usam pra comprar armas. Nas mãos do Estado, teoricamente, os impostos seriam usados para construir hospitais...eu disse e frisei teoricamente.
   Não quero aqui fazer apologia de qualquer droga, essa é somente minha opinião, e como já falei, ela não muda o mundo. Sobre outras drogas, como cocaína e crack, penso de forma diferente. Até o próximo.
   
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
foto minha após peridural...
   Bom, pra terminar esse serviço de utilidade pública (espero...), vou falar de outro mito (ou não...) da anestesia para a população leiga que é o medo que ronda a anestesia condutiva(raque ou peridural). Antes de mais nada, me submeti a uma peridural algumas semanas atrás numa tentativa de melhorar minha dor na coluna cervical, o que me deu um bom alívio por algum tempo, então falarei com maior conhecimento de causa. Um pouco de história:

   Em 1884 Sigmund Freud estudava os efeitos estimulantes da cocaína no sistema nervoso central. Carl Koller percebeu que a amostra de cocaína recebida de seu amigo Freud, ao entrar em contato com a língua, a deixava anestesiada. Percebeu ali a possibilidade de utilização de uma solução de cocaína para aplicação tópica em cirurgias oftalmológicas. Koller conduziu então, juntamente com Gustav Gartner estudos com sucesso em olhos de sapos, coelhos e cachorros. Tendo sido uma das primeiras aplicações dos anestésicos locais.
August Bier
Em Dezembro de 1884Willian Halsted e Richard Hall realizaram bloqueios de nervos periféricos bem como do plexo braquial.
August Bier utilizando-se da técnica descrita por Heinrich Quincke realizou a primeira cocainização deliberada da medula espinhal. Permitiu inclusive que seu assistente, Hildebrandt, realizasse uma punção lombar nele mesmo. Em seguida os papéis se inverteram e Bier realizou uma punção em Hildebrandt. Ambos apresentaram cefaléia após a experiência. A cefaléia inicialmente fora atribuída às comemorações pelo sucesso em obter anestesia com a técnica empregada. Mais tarde ficou mais claro que a cefaléia pós punção da dura-máter relacionava-se à perda de líquor pelo orifício realizado. August Bier e Theodor Tuffier dividem o mérito do início da então chamada raquianestesia (fonte: Wikipédia)

  Os maiores anseios que rondam essa anestesia são a dor de cabeça (cefaléia pós raque) e os sintomas neurológicos) . Todo mundo tem uma avó ou tia velha que contam histórias do sujeito que ficou paraplégico após tomar uma raque.

   A incidência de sintomas neurológicos é baixa e são na maioria das vezes transitórios, são complicações inerentes ao procedimento, pois todo e qualquer procedimento em medicina tem riscos, por menores que sejam.
exemplo de agulha utilizada na anestesia condutiva
O tamanho das agulhas utilizadas assusta a população leiga, pois são obviamente bem maiores que as agulhas tradicionais, sem as quais seria impossível acessar os espaços pretendidos na coluna.
   Lembro de uma vez, quando começou o hábito de deixar os pais entrarem em salas de cirurgia para assistirem os partos de seus filhos, eu fui fazer uma raque para uma cesariana e o pai segurava a mão da gestante, sua esposa. Quando eu saquei a agulha de raque e ele a viu, caiu por cima da mulher desmaiado, derrubou minha bandeja de bloqueio e quase derruba a mãe, foi um escarcéu na sala. Ainda tive que escutar, após melhora do pobre pai, os xingamentos da esposa chamando ele de "viadinho" pra baixo. Após este fato, passei a permitir a entrada dos pais somente após a anestesia realizada e a paciente preparada e coberta com os campos.
Cuidado com o que fala com o anestesista...
  Procuramos sempre que possível sedar bem os pacientes antes da punção, para oferecer conforto e amnésia. Este procedimento pode levar a algumas "confissões" constrangedoras . Uma vez entrou em sala um paciente que ia fazer algum procedimento ortopédico, não lembro qual, com raque. O cara era muito forte, tatuado, causou frisson entre as auxiliares de enfermagem. Sedei o cara, virei ele de lado e anestesiei. Após o início da cirurgia, ele acordou e começou a falar. Quanto mais eu sedava , pior. A certa altura, o cara começou a falar que eu era lindo, que se me pegasse acabava comigo, que eu era gostoso, etc. Começaram os risos na sala, e eu não tive outra opção senão passar a anestesia pra geral...Já tinha visto muita coisa, mas sair do armário na minha frente foi a primeira...
quarta-feira, 1 de setembro de 2010


Tudo isso é verdade nua e crua...ri demais...
Foto minha na visão do paciente...
   Comentei no outro post que o medo da anestesia fazia parte da cultura de massa, do telefone sem fio de pai pra filho, mas admito que havia certa razão de existir com essa intensidade por um motivo muito simples: anestesia/cirurgia matavam mesmo...era uma sorte sair vivo de uma intervenção desta, com as drogas que eram utilizadas e a tecnologia de monitorização existente.
   Precisamos de um pouco de história pra entender toda a mitologia que se esconde por trás desta entidade maligna que é a anestesia. Já em 1800 o químico inglês Humphry Davy se livrou de uma dor de dente, aspirando protóxido de azoto, o "gás hilariante", usado até hoje como adjuvante em anestesia geral e em anestesia dentária em alguns países (como no vídeo do David aí embaixo...), mas ninguém levou em consideração a ideia de Davy que aquilo pudesse ser usado em intervenção cirúrgica.

 Em 1823 o médico inglês Henry Hickmann tentou com sucesso anestesiar cães com bióxido de carbônio, mas este levava a intoxicações mortais. Em 1842 Crawford Long, médico rural em Jefferson, EUA, fez seus pacientes inalarem éter para operar sem dor, e não atinou que tinha feiro a descoberta que iria abalar o mundo, e continuou a clinicar no campo. Em 1845 o dentista Horace Wells fez uma exposição fracassada com uso do gás hilariante.

Morton, Warren e a primeira tentativa pública bem sucedida.
  Finalmente em 1846, como resultado final de 50 anos de movimento subterrâneo de tentativas inúmeras, Thomas Green Morton fez sua famosa bem sucedida anestesia em Boston, Massachussets, para um plateia estarrecida anestesiando com éter para um cirurgião famoso, Dr Warren.
   Bem, acontece que a administração do éter ou de qualquer outro anestésico que tenha sido criado até hoje, para colocar o paciente em estado de inconsciência, imobilidade e analgesia necessita de monitorização contínua dos sinais vitais, e tínhamos à época somente o pulso, sentido por palpação, a ausculta e pressão arterial e...mais nada...
   A entidade do especialista em anestesia não existia, esta era muitas vezes feita pelo próprio cirurgião, um auxiliar, um farmacêutico ou qualquer um disponível sob as ordens do médico principal. Levando-se em conta a pobreza de recursos de monitorização, o pouco entendimento do funcionamento dos anestésicos, assim como irracionalidade em seu uso, lógico que a mortalidade era altíssima, índice que foi decaindo com a evolução da tecnologia e farmacologia, criação de especialidade médica da anestesiologia, das sociedades de classe e da própria técnica cirúrgica.Ainda falta falar dos mitos da anestesia condutiva (raque ou peridural) mas isso fica pro próximo...
Certo, Dr Hugo!!!!
   Como deu pra reparar, sua avó, ou mesmo sua mãe (no Brasil as coisas demoraram ainda mais para chegar a níveis aceitáveis) não estavam tão erradas assim de se cagar todas quando o assunto era anestesia. Mesmo assim fica a dica: Não tentem fazer isso em casa, crianças, certo, Michael Jackson?

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