quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Só o trabalho liberta
   "Fui transferido para Aushwitz no final daquele ano de 1943, segundo meu comandante eu faria parte como cirurgião de trabalhos científicos naquele campo. Os médicos chefes alemães aos quais eu seria subordinado eram  Joseph Mengele e Carl Clauberg, entre outros, e segundo meus superiores, minha perícia e rapidez cirúrgicas seria essenciais no auxílio a esses trabalhos. Óbvio que eu não fazia idéia do que eu realmente encontraria ali e nada tinha me preparado para aquilo. Eu tinha sido originalmente designado para realizar ooforectomias(1), cirurgia bastante simples, mas que eu não via nenhum propósito serem realizadas em ambiente militar, até descobrir o que realmente estava sendo feito e os resultados que se procuravam.
  Do pórtico de entrada do campo, onde se lia que só o trabalho liberta, até a execução da maioria das experiências conduzidas ali, tudo era dissimulação e mentira. Desde a chegada dos prisioneiros, conduzidos como gado, passando pelo "preenchimento" de formulários em ambientes com altas de doses de radiação(para esterilizá-los), até a simples execução em câmaras de Zyklon B (2). Entrei em desespero, puro e simples desespero, mas tive a impressão de que poderia fazer alguma coisa para diminuir o sofrimento daquelas criaturas, não sei se só por piedade, mas uma forma de ser auto indulgente, de tentar diminuir a vergonha que eu sentia por ter traído a memória de meus pais e trabalhar como colaboracionista.
Vítima de experiência nazista
   Conversando depois com oficiais alemães e colegas poloneses, fiquei sabendo que experiências médicas com cobaias judias, podemos chamar assim, eram disseminadas pela maioria dos campos de concentração da Polônia. Eram bem conduzidas, dentro do rigor científico e estatístico (3), e eram de maneira geral divididas em 3 categorias:
   Em primeiro lugar experiências que visavam a sobrevivência de oficiais do próprio Eixo.  Em Dachau, por exemplo, oficiais médicos da Força aérea alemã realizaram experimentos sobre reações à altitude, usando câmaras de baixa pressurização, para determinar a altitude máxima da qual as equipes de aeronaves danificadas poderiam saltar de pára quedas, em segurança. Também experimentos com congelamento, usando prisioneiros como cobaias para descobrir método eficaz de tratamento de hipotermia, além de outros para testar vários métodos de transformação de água marinha em potável. Desnecessário dizer o número de mortes durante a condução destes experimentos
Cigano
  Em segundo, desenvolver e testar medicamentos, além de métodos de tratamento para ferimentos e enfermidades. Nos campos de Sachsenhausen, Dachau, Natzweiler, Buchenwald e Neuengamme, foram testados agentes imunizantes e soros para tratar e prevenir doenças como malária, tifo, tuberculose, febre amarela, hepatite, inoculando os prisioneiros com tais doenças. Em Ravensbrueck foram feitos experimentos cruéis com enxertos ósseos, além de testarem a sulfonamida, a custa de muitas vidas. Em Natzweiler e Sachsenhausen, prisioneiros foram sujeitos aos perigosos gás mostarda e fosgênio.
Crianças de Mengele
  Por último, experiências que buscavam aprofundar os princípios raciais e ideológicos da visão nazista. As mais infames foram as de Joseph Mengele, em Aushwitz, que utilizou gêmeos, crianças e adultos, além de experiências  sorológicas em ciganos, querendo demonstrar diferentes comportamentos frente a doenças nas diferentes "raças".
  Foi num desses dias macabros que eu inesperadamente conheci meu fim. Ia começar o dia operando uma prisioneira do campo. Eu costumava fazer raquianestesia, embora nem todos concordassem em utilizar qualquer tipo de anestesia. Convenci-os, de maneira dissimulada, que aplicar anestesia facilitaria os procedimentos, pois os "pacientes" se mexeriam menos e fariam menos barulho do que simplesmente amarrá-los, como era hábito da maioria. Na verdade eu queria acabar com o sofrimento daqueles miseráveis, ao menos diminuir.
Cirurgias em Aushwitz
  Tinha iniciado a intervenção, quando a prisioneira começou a balbuciar alguma coisa ininteligível, talvez consequência do barbitúrico que eu aplicava antes de iniciar a anestesia. Um dos soldados presentes, rindo, aplicou uma violenta coronhada na cabeça da paciente, mandando que se calasse, e gargalhando depois de constatar que sua atitude tinha despertado risos nos outros. Cheguei ao limite, não suportava mais aquela covardia, minha mente açoitada por pensamentos de vingança, virei-me, puxei a Lugger P08(4) do coldre do soldado, encostei em sua têmpora e puxei o gatilho. Foi tudo muito rápido, como um sonho...o cérebro dele voando aos pedaços pela sala junto com o spray de sangue vivo, os gritos e xingamentos, a confusão de tiros em minha direção...fui praticamente metralhado por 3 ou 4 Luggers, mas ainda tive tempo de esboçar um sorriso antes de desabar no chão, inerte.
   Uma grande lição para toda humanidade foi tirada desses dias sombrios, e que se espera que não se repitam,  toda sordidez humana disfarçada de ideologia, toda sua desumanidade disfarçada de guerra. Não foi somente uma guerra, foi uma covardia sem precedentes. O neófito que criou o termo genocídio foi extremamente feliz em sua idéia."


Notas do autor:

(1) Cirurgia para retirada dos ovários.


(2) Zyklon B era a marca registrada de um pesticida a base de ácido cianídrico, cloro e nitrogênio que foi utilizada pelos nazistas como veneno no assassinato em massa por sufocamento nas câmaras de gás, era ativado em contato com ar.

(3) Ainda hoje se discute sobre se utlizar os resultados desses experimentos, que foram realmente bem conduzidos do ponto de vista científico, exceto é claro sua parte ética.

Lugger P08
(4) Principal pistola adotada pelo exército alemão, depois de 1908(daí seu nome), é considerada o maior souvenir da Segunda Guerra Mundial.










segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
"Bip, bip,bip
Se parar, faz o som com a boca...
Os dois velhinhos se olharam:
- Feliz Natal, vizinho...
- Pra você também...
Bip,bip,bip
- Infarto tanbém?
- É...com angioplastia primária...Você?
- Nah, infarto comum, só precisei de droga mesmo...estreptoquinase...
Bip, bip, bip
- Mata uma curiosidade, que merda de bipbip é esse que fica o dia inteiro aí?
- O que é eu não sei, mas se o seu bip parar, começa a imitar o som com a boca...o do vizinho da frente parou essa semana e ele tomou uma porrada no peito por causa disso...não satisfeitos, veio um monte de gente depois e até choque ele levou...
- Mas se o problema é no aparelho, não é mais sensato dar uma porrada no aparelho?
- Não se fazem mais médicos como na minha época...
- Ô...

O anestesista colocava o uniforme do centro cirúrgico, constrangido. Ela, muda. O setor estava quieto.
- Isso nunca me aconteceu, só pra registro...
- Fica tranquilo, deve ser remorso por estar traindo sua mulher na noite de Natal...
- Hum...
Isso nunca me aconteceu...
- Pelo menos agora dá pra adivinhar sua especialidade sem você dizer, se eu não soubesse diria que você é anestesista...
- Por que?
- Por que eu não senti nada...rs
- Ah é, saiba que essa sua mania de pediatra de ficar fazendo vozinha de criança e chamando de neném também não é das coisas mais excitantes do mundo, viu?
- Brocha...
- Imatura...
Cada um pro seu canto.




O som vindo da sala de procedimentos era ensurdecedor
- Que merda é essa, tão assassinando um leitão aqui hoje, que gritaria! A enfermeira chefe do PS estava irritada.
Tampão improvisado
- É o Cidão "Cachorro Louco", tá reduzindo um prolapso de reto...O residente de cirurgia estava meio envergonhado.
- Mas é assim mesmo?
O cirurgião do plantão sai da sala...
- Pronto, reduzi o prolapso e tochei um "O.B."  improvisado que eu fiz, de compressas, esse prolapso não sai mais...
- Mas chefe, a hora que ele tirar o tampão para evacuar, o prolapso vai sair todo de novo, não era melhor operar logo? o residente parecia ansioso.
- Animal, vai sair de novo, mas não no MEU plantão de Natal, amanhã o colega que atender que se vire...
Quando ele sai, a enfermeira olha pro residente com ar de reprovação:
- Podia ser pior, já viu como ele trata mulher com histeria que bate aqui no PS?
- Não...diz o residente, desanimado
- Ele coloca a indivídua na última maca lá do canto, faz um litro de soro direto na veia,  uma ampola de diurético e espera...se ela estiver fingindo e não quiser se mijar toda, tem que atravessar o PS correndo pra ir no banheiro...
- Putz!
- E se chegar cachaçado, continuou ela, ele trata direitinho, mas antes do cara sair faz um enema, pro cara se cagar  assim que chegar em casa...

Ele, residente da cirurgia, corria atrás dela, residente da anestesia e sua esposa, com um prontuário na mão. Ambos pernambucanos chegados ao Rio pra fazer a residência médica.
Apendicite agora não, benhê...
- Amor, posso colocar minha apendicite na sala agora?
- Oxi, amor, agora? Daqui a pouco é a ceia de Natal, não é hora de fazer apêndice!
- Mas vida, eu tentei colocar mais cedo...
- Mais cedo eu e os residentes estávamos ocupados limpando a área pra noite, cirurgias que VOCÊ arrumou...
- Como assim eu arrumei, meu docinho de abóbora, por acaso eu fico aí na frente do hospital chamando pacientes pra operar? Com aquela placa tipo sanduíche "Opera-se aqui"? Os pacientes vêm sozinhos...
- De qualquer jeito, estávamos ocupados...
- Eu tentei depois do almoço também...
- Mas calanguinho, você sabe que depois do almoço eu gosto de tirar uma sonequinha, não é hora de por apêndice na sala!
- Amor, e de tarde?
- À tarde você sabe que complica, sempre chega fratura pra operar, dos mulambos que caem da laje bêbados...
- Eu sei, mas agora tá tranquilo e...
- Pitéu, deixa pra amanhã tá...
Diálogo baseado em fatos reais.


   Hora da ceia de Natal, todos que não são animais inferiores, como residentes e internos, param um pouco o trabalho pra confraternização. Aquela enfermeira que odeia médicos abraça todos que encontra, aquele anestesista que não topa com aquele cirurgião está praticamente abraçado com o cara...o milagre do Natal...
O residente de cirurgia chega esbaforido, com uma pilha de exames pra mostrar pro "cachorro louco":
- Doutor Aparecido, chegou um baleado de abdome, tá meio instável!
Cidão "Mad Dog"
- Aparecido o caralho, não gosto desse nome!
- Mas o senhor não deixa os residentes te chamarem pelo apelido...
- Me chama de Sua Majestade então, mas Aparecido ninguém merece...
- Sua Majestade, chegou um baleado aí no PS, já corri os exames, tem sangue na cavidade, tem que operar agora!
- Bandido?
- Não , policial...
- Merda!
- Por que, tem diferença?
- Claro, bandido a gente coloca um sorinho bem devagarinho e põe o cara na sala de procedimentos, aguarda um pouquinho, as vezes não dá tempo de operar...uma pena...ele fala com uma tristeza irônica.
- Bom, posso levar pra sala então?
- Pode, e vira-se pro outro cirurgião da equipe, Ô maluco, tem um baleado pra gente operar agora, pára de falar gracinhas aí pra enfermeira que tu não vai pegar mesmo e vam'bora acabar com isso duma vez...
- Bandido? pergunta o outro
- Não, policial...
- Merda!

Nota: Tanto o casal pernambucano quanto o cachorro louco são reais. O fato de publicar essas pérolas não implica em concordar com os fatos aqui expostos. Bom Natal a todos!


Nota 2: Prolapso de reto:http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?348
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Marcha alemã da vitória em 1939
   "Durante muitos séculos, foi disseminado o ódio na Europa. Um ódio baseado em calúnias e infâmia, muito  por instituições que pregam o amor e a tolerância como preceitos. O ódio ao povo judeu tem raízes profundas, na morte do Messias cristão, foi mantido por razões as mais diversas, e mais uma vez, naqueles anos lamentáveis, cobrou seu preço. A visão e objetivos de Adolf Hitler, do bem escrito "Mein Kampf", não era somente da criação de um Império econômico da sua Alemanaha. Passava também pela extinção de todo um povo, baseado em preconceito per se.
   Este preâmbulo nos leva diretamente ao ano de 1939. Meu país tinha sido invadido, de maneira rápida e avassaladora, a blitzkrieg(1) em sua melhor forma. Era a repaginação da história bíblica de Davi e Golias, soldados mal treinados contra máquinas de guerra, Panzers contra cavalos, aeronáutica mortífera contra nada.
O Gueto
  Varsóvia 1940. Logo após a vitória, fácil e previsível, a Alemanha através de seu Governo Central começou a planejar o isolamento do povo judeu em guetos. A  Judenrat(2) tinha conseguido atrasar a construção de um em Varsóvia, muito pelo argumento de utilizar o meu povo como mão de obra escrava. Em 16 de Outubro de 1940 foi criado e murado finalmente o Gueto. Era um verdadeiro depósito de vidas humanas, tinha uma população de 400.000 judeus num espaço exíguo, onde normalmente caberiam 60.000 pessoas. A vida lá dentro era muito dura, a ração de alimento para os judeus era mais de 10 vezes menor que a oferecida aos alemães da cidade. Mesmo assim, por um tempo, a Judenrat conseguiu continuar com alguma atividade cultural e escolar.
Fuga durante o Levante do Gueto de Varsóvia
    Eu era já oficial médico do exército, que através da proteção de colegas fiéis, tinha escapado do gueto. Usava nome não judeu e participava como colaboracionista do exercito invasor, minha primeira decisão equivocada. Que merda, eu deveria ter acabado com aquela farsa ali mesmo, mas meu amor à vida e minha covardia tinham impedido. Eu era um fraco, um omisso... Além disso, era muito útil ao invasor pelas minhas habilidades médicas, era cirurgião laureado e Professor titular da Universidade local, autor de trabalhos e inventor de técnicas cirúrgicas arrojadas. Isso me levou ao clímax de minha história, num lugar chamado Aushwitz, mas isso é pra depois...
Himmler em 1943
   Ainda em 1940 a resistência judaica começou a se formar, talvez o único lugar do território ocupado. E foi só 2 anos depois que se formou o primeiro grupo de combate, mais ou menos na mesma época em que iniciou o que se denominou depois de Levante do Gueto. Os líderes, chefiados por um jovem de 24 anos chamado Anilevitch, fizeram o seguinte apelo: "Declaramos guerra à Alemanha, a declaração de guerra mais desesperada que já foi feita. Organizamos a defesa do gueto, não para que o gueto possa defender-se, mas para que o mundo veja nossa luta desesperada como uma advertência e uma crítica."
   Um dia, já em 1943, o próprio Himmler(3) em pessoa visitou o gueto de surpresa. Cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Me pareceu extremamente metódico, um amor incondicional à causa do Führer, um zelo invejável no cumprimento de dever. Essas características o colocaram na História, infelizmente num lugar tão infame quanto essencial ao desfecho da guerra.
Trem chega a Treblinka
  Foi dele que partiu a ordem direta de aniquilação total do gueto. Acredito só ter passado por um momento como aquele por ocasião da morte de meus pais. As execuções sumárias ou transporte para Treblinka(4) tinham acabado, agora o invasor ia reduzir a pó um bairro inteiro super populoso. Foram utilizadas bombas incendiárias, a Luftwaffe(5) entrou em ação contra população civil desarmada, foi um dos atos de guerra mais covardes de que se tem notícia. Em 16 de maio , o General Stroop enviou o seguinte telegrama a Hitler: "O bairro judeu de Varsóvia não existe mais" A conivência do povo polonês com aquele banho de sangue  plantou a semente em meu coração daquilo que viria a ser o meu fim, num lugar ainda mais infame, longe dali.
   Acho que talvez as acusações mais contundentes devessem ter sido feitas aos dirigentes do resto do mundo. Eles poderiam ter feito muito mais para evitar ou retardar o genocídio, e nada fizeram. Parece que só deram conta da incrível realidade daquela barbárie depois de descobertos os campos de morte, com seus fornos crematórios ainda fumegantes, e suas pilhas de corpos."  CONTINUA NO PRÓXIMO E FINAL.


Notas do Autor:


(1) Blitzkrieg: Significa Guerra-Relâmpago. Consistia em utilizar ataques rápidos, brutais e de surpresa, utilizando muitas vezes infantaria, blindados e aeronáutica juntas. Essencial nas vitórias rápidas e desmoralização de inimigos na Segunda Guerra.


(2) Judenrat: Conselho judeu, em alemão. Formado em cada gueto como forma de administração vinculado ao Exército invasor.


(3) Heinrich Litpold Himmler: Comandante alemão, peça chave na execução do Holocausto judeu.

(4) Treblinka: Quarto campo de extermínio da Polônia ocupada




   














  
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
"- Doutor, acho que o problema é Complexo de Édipo...
O médico, que estava completando suas palavras cruzadas enquanto saboreava um expresso, vira-se distraidamente para o paciente, saca uma nota do bolso e comenta:
 - Companheiro, deixa a velha em paz. Aqui, pega esse troco aqui e vai ali na Cinelândia pegar uma puta..."


O Pai da Sacanálise
Sigmund Freud nasceu em Freiberg, na Morávia, em 6 de maio de 1856. Médico neurologista, começou a tratar seus pacientes de sofrimento psíquico com os métodos tradicionais da época, como massagem, hidroterapia e eletroterapia, sem sucesso. Depois, começou a usar a hipnose junto com seu discípulo e amigo, Joseph Breuer (se você já leu o sensacional "Quando Nietzsche chorou", lembra dele...), começou com a catarse, depois criou a associação livre, enfim a psicanálise. Aprendeu hipnose com Charcot na Universidade de Viena. Sua teoria mais famosa está ligada a um suposto amor reprimido entre filho e mãe, o complexo de Édipo.


"- Minha ansiedade está altíssima, não durmo, não como, não consigo me concentrar, estou HISTÉRICA...
 - Filha, seu diagnóstico é AVC...
 - O quê, acidente vascular cerebral?
 - Não, Angústia da Vagina Carente...
 - E isso tem cura?
 - Não, o tratamento é continuado. Deita aí no divã, tira a roupa que eu vou chamar minha secretária pra participar e já volto..."
   
Mulher à beira de um ataque de nervos.
Em 1895 publicou seu primeiro livro, "Estudo sobre Histeria", junto com Breuer, o livro teoriza que emoções reprimidas podem levar a sintomas de histeria e que poderiam desaparecer se o paciente pudesse se expressar. O termo "histeria" tem origem do grego "histerikos", condição clínica feminina exclusivamente, que estaria ligada ao útero (hystera, em grego)


"- Resolvi procurar o senhor porque tenho tido sonhos muito estranhos, envolvendo lhamas, meu marido e o Winston Churchil...
- Toma essa trouxinha aqui, faz um cigarro toda noite e fuma antes de dormir. Toma esse calmante aqui também...
 - Mas doutor, isso é maconha! Vai ajudar a compreender meus sonhos?
 - Não, mas você não lembrará deles na manhã seguinte e não vai vir aqui encher meus ouvidos com essa bobagem..."
Interpretação dos Sonhos
Começou depois a elaborar sua doutrina da fantasia, concebendo então a Teoria do sonho e da fantasia, centrada no recalcamento e no Complexo de Édipo. Dessa teoria nasceria, em 1899, seu segundo grande livro, "A interpretação de sonhos". Nele postula que os sonhos são a "estrada mestra para o inconsciente", a camada mais profunda da mente humana



"- Doutor, às vezes acho que ninguém dá importância ao que eu falo, me sinto insignificante, praticamente um fantasma...
 Ele pega o telefone, liga na recepção do consultório e solicita a secretária:
 - Dona Gertrudes, manda entrar o próximo paciente, estou aqui sem fazer nada há uma hora. 
 Vira-se pro paciente:
 - Seu tempo acabou...e antes dele sair, pergunta:
 - Figura de linguagem em que ocorre substituição de uma palavra por outra que guarde relação de semelhança com 8 letras, começa com "M"?
 - Metáfora!
 - Obrigado...
 - Doutor, eu...
 - Seu tempo acabou..."
Na livre associação, base da prática psicanalítica atual, o paciente é instado a falar tudo que lhe vem à mente para revelar memórias reprimidas que poderiam ser a causa de neuroses. Em 1908 fundou a Sociedade psicanalítica de Viena, e desta Alfred Adler e Carl Jung saíram como dissidentes. A saída deste último foi uma grande decepção para Freud, que esperava que Jung expandisse a psicanálise além do ambiente judaico vienense.




"Ela falava sem parar, enquanto o psiquiatra escrevia uma receita de calmantes e antidepressivos:
 - Doutor, quanta grosseria, o senhor nem me ouviu ou me examinou e já está fazendo prescrição de remédios!!
 - Engano seu, essa receita é da próxima paciente, a sua está aqui...ato contínuo, abre sua gaveta e entrega o papel a moça..."
Hitler realmente era uma besta.
Em 1936 disse ironicamente ter considerado um avanço o fato de seus livros terem sido queimados na fogueira por Hitler, pois antigamente seus autores é que eram queimados. Com a ascensão do nazismo ao poder e intensificação da perseguição aos judeus, fugiu para Inglaterra em 1938 onde morreu no ano seguinte, de câncer.








terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Pausa: Pronto, voltamos a nossa programação normal!
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
   "Estou morto.
Provavelmente isso é tudo que aqueles dois oficiais nazistas precisariam saber, além de proferir imprecações sobre como remover meu corpo dali e limpar toda aquela sujeira. Decisões que tomei em minha vida me levaram a morrer dessa forma estúpida, decisões das quais me arrependo. Bom, vou começar do começo.

Região dos pogroms
   Meu nome é(ou costumava ser...) Mordechai ben Eliezer, sou de família judia russa, nascido em Kishinev(1), Sul da Rússia. Ser judeu nessa região do Império russo no final do século XIX e início do XX definitivamente não era um bom negócio. A política czarista era abertamente anti-semita, seja através dos pogroms que estavam acontecendo desde 1881, até a falsificação e publicação dos famigerados "Protocolos dos Sábios de Sião"(2). O Governo apoiava essa política com dois objetivos principais: diminuir drasticamente a população judia o mais rápido possível e desviar o ódio popular, principalmente camponês, a fim de controlar a onda revolucionária que desembocaria, em 1917, na Revolução Comunista.
Barbárie...
   Pogrom significa, em russo, "tempestade" ou destruição", o termo se encaixa perfeitamente nesse tipo de ação, provavelmente governamental, que foi lançada sobre a população judia, de saques, assassinatos e outras selvagerias indizíveis, desde que o czar Alexandre II faleceu e o novo czar, Alexandre III assumiu o poder. Este cancelou várias regalias dadas aos judeus, que tinham levado a região a um grande crescimento econômico anos antes, e iniciou a perseguição através da figura de Pobedonostzev, um reacionário ultra nacionalista, procurador do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa. 
  Os pogroms já aconteciam desde 1881, mas meu pai, que era dono de uma loja de secos e molhados na cidade, achava que nunca nada atingiria sua família. Levávamos uma vida confortável pra os padrões da época, minhas duas irmãs e minha mãe trabalhavam com meu pai, eu era muito pequeno naquele fatídico ano de 1903. Sob o domínio russo, a cidade tornara-se um ativo centro comercial e industrial, atraindo judeus de outras partes da Rússia, em busca de trabalho.
Judeu espancado em Kishinev
  A merda toda teve início em fevereiro daquele ano, depois da morte de um menino cristão chamado Michael Ribalenko. Mesmo com a suspeita de que tinha sido um parente seu o autor do assassinato, comprovado mais tarde, o filho da puta do chefe de polícia local começou a espalhar o boato de que tinham sido os "judeus". Foi orquestrada nos jornais uma campanha de difamação sem precedentes, até que o estopim da violência foi forjado: o suicídio de uma jovem cristã, paciente de um hospital da cidade. Claro que tanto o assassinato quanto o suicídio nada tinham a ver conosco, mas isso só veio a público depois do início das ações. 
Refugiados dos Pogroms
   Às vésperas da Páscoa, o inevitável aconteceu. Primeiro de forma isolada, alguns espancamentos ou estupros, até a generalização do massacre. Meu pai, no decorrer de algum tempo, tinha escondido no porão da casa a maior parte de sua riqueza e isso foi nossa salvação. Ele chegou em casa com um olhar vidrado, vazio, ordenando à minha mãe que juntasse o maior número de pertences possível, estávamos fugindo para Varsóvia, Polônia, onde ele tinha alguns parentes. Minha mãe então perguntou, já pressentindo a desgraça, onde estavam minhas irmãs. Meu pai parecia um alucinado, juntando dinheiro, jóias, menorahs(3), então minha mãe entendeu o que tinha acontecido com elas. Não sei onde ela achou forças para a fuga, somente muito tempo depois, longe dali, eles desabariam em choro convulsivo e prestariam as homenagens fúnebres às minhas irmãs. Minha mãe nunca mais quis saber o que tinha acontecido, mas eu sim: foram estupradas e mortas em plena rua, enquanto a loja do meu pai era saqueada e destruída. 
  Uma parte do dinheiro de meu pai foi entregue ao chefe de polícia, para que ele fizesse vista grossa sobre nossa fuga, o que fez com que fugíssemos com poucos pertences mais objetos de uso pessoal e religioso. Tudo isso meu pai me contou em detalhes, em Varsóvia. Meus pais vieram a falecer alguns anos depois, acho que de desgosto, deixando grande parte de minha criação a cargo de um primo.
   Tinha resolvido adotar um nome não judeu, pois a Polônia era também em grande parte anti-semita e eu seguia carreira no exército como oficial médico especializado em cirurgia, me sentia obviamente muito mais polonês que russo. Não tinha sequer conhecido minha pátria natal.(CONTINUA)


Notas do autor:
   
(1) Durante o séc XIX, Kishinev era capital da Bessarábia. Atualmente é capital da República da Moldávia, parte da ex União Soviética.
(2) Texto, surgido, originalmente, em idioma russo, supostamente alega-se terem sido forjados em 1897 pela Okhrana (polícia secreta do Czar Nicolau II), que descrevia um projeto de conspiração para que os judeus atingissem a dominação mundial.
Menorah
(3) Castiçal tradicional judeu.

Quem sou eu

Médico, anestesista, ateu e peão

Seguidores

Tecnologia do Blogger.