segunda-feira, 21 de março de 2011
Priestley, Joseph
   O advento da anestesia não poderia vir de outro lugar senão a eterna e inescapável necessidade humana de fugir da realidade, do tedioso mundo físico e de si mesmo, enfim, de ficar muito doido mesmo. O óxido nitroso, vulgo gás hilariante, foi inventado em em 1772 por Joseph Priestley, teólogo britânico do século XVIII, cujo trabalho mais importante deve ter sido a descoberta do oxigênio, o "gás deflogisticado". Aliás foi esse apego à teoria do "flogisto", teoria antiga que dizia que a matéria continha flogiston, que o impediu de reconhecer a grandiosidade de sua maior descoberta.
Cartaz de apresentação
  O óxido nitroso foi inicialmente utilizado em festas e apresentaçãoes ao público, embaladas a muita inalação do gás, contido em bolsas de borracha. Segundo o poeta Robert Southey, ele fazia a pessoa "rir, cantar, dançar ou brigar, de acordo com o traço predominante de seu caráter". Sir Humphrey Davy tratava suas dores de cabeça com o gás, dizia: "...uma sensação agradável, idéias vívidas passam rápidas pela mente, e o controle dos movimentos é completamente  destruído..."
   Numa destas apresentações estava Sam Cooley, que na animação após a inalação feriu seus joelhos, e foi mais tarde, olhando para as pernas ensanguentadas que percebeu que um homem podia "entrar numa briga..." e não perceber ferimentos ou "se submeter a uma cirurgia sem sentir nenhuma dor no momento..."
Galera muito louca numa balada de gás...
   Entre os presentes encontrava-se Horace Wells, dentista de Hartford, que percebendo a importância da descoberta, no dia 11 de Dezembro de 1844, convidou um empresário de circo, Gardner Colton, que tinha feito a apresentação da noite anterior,  para presenciar uma experiência em seu consultório. Pediu que um colega seu, também odontólogo John Riggs (o mesmo da doença de Riggs), que extraísse um siso após a inalação de protóxido de azoto ( o outro nome do óxido nitroso). Com o sucesso da experiência e de mais de 10 casos depois, foi para Boston tentar ficar rico com sua descoberta.
Wells, Horace
   Apresentou suas idéias a um aluno seu, William Green Morton e ao renomado cirurgião John Warren em 1845 e resolveram por em prática suas idéias, diante de um anfiteatro lotado, inclusive aos desconfiados Morton e Warren. Aplicou o gás em um estudante de medicina para extração dentária e o mesmo...GRITOU DE DOR. Foi um vexame. Humilhado e desacreditado, Wells voltou para Hartford e desistiu da odontologia. Mal sabia ele que seu gás seria utilizado em anestesia durante quase 2 séculos agora, inclusive em consultórios dentários.
   Já li que sua experiência em Boston falhou porque o estudante de medicina utilizado era um tremendo cachaceiro, e por isso as doses de gás teriam de ser maiores para mantê-lo anestesiado. Bom, se for por isso, melhor não usar então NENHUM estudante de medicina em experiências do tipo, todos sofrem do mesmo problema...;)
   Hoje o óxido nitroso, além de consultórios dentários em alguns países, é usado em anestesia geral, mas não como agente único, sim como adjuvante dos anestésicos inalatórios, diminuindo seu consumo. Horace Wells morreu sem saber a grande contribuição que tinha dado para medicina, e todos os créditos do advento da anestesia foram para Morton, cuja história contarei outro dia.

Crianças, não façam isso em casa...


  
terça-feira, 1 de março de 2011
Paulo Tiefenhaler
   Nunca fiz resenha de nada, tanto por não ter canal adequado (não pegou bem essa...mas agora deixa...) quanto por nunca ter gostado tanto de uma coisa a ponto de fazê-lo, então este é um post diferente. Quem conhece este programa sabe do que estou falando, e quem não conhece, será apresentado ao MELHOR PROGRAMA DE HUMOR que a televisão brasileira já produziu na minha modesta e irrelevante opinião: O Larica Total.
   Larica total é um humorístico-culinário apresentado pelo excelente ator Paulo Tiefenhaler, até então bastante desconhecido da grande massa, injustamente a meu ver. Coincidentemente outro dia vi o cara numa participação na novela O Clone ao lado de Reginaldo Faria, limpo, penteado e falando com dicção precisa e não pude deixar de rir, já conhecendo seu trabalho no programa. Então, o programa é algo absolutamente tosco, em que Paulo de Oliveira (personagem do primeiro Paulo) dá "aulas" de culinária, mas uma culinária diferente: a culinária VERDADE, que nada mais é que aquilo que podemos produzir em casa com os instrumentos que temos, com os ingredientes disponíveis. A figura tosca do cara, com cabelo desgrenhado, o ambiente de sua própria cozinha num modesto apartamento no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro (bairro famoso pela boemia, o Montmartre brasileiro), cozinha essa na maioria dos episódios meio suja, bagunçada, com limo nos azulejos, louça suja em quantidade na pia são o cartão de visitas do programa.
   Há episódios que ele apresenta de pijama ou de moletom daqueles surrados de andar em casa, ou simplesmente de toalha após um banho. O cara é meio careca então a parte da cabeça coberta por cabelos ele faz questão de deixar em completo desalinho, parece a cara do Patolino quando a cabeça explode no desenho clássico da Warner.
   Outro hit do programa são os utensílios de cozinha: as panelas são antigas e sem tefal, ele só tem 2 facas, de cortar pão, que ele usa pra cortar tudo (depois, com o tempo, compra outra), as facas Total Flex. Uma única colher de sopa estranhíssima, formas amassadas e por aí vai. E ele usa com maestria a própria falta de instrumentos adequados pra fazer humor. Seu liquidificador da década de 80 simplesmente derrete num dos episódios em que ele pôs algo muito quente para bater, e o mesmo liquidificador todo fudido é usado daí pra frente, sem conserto.
   A dicção é a pior possível, um carioquês cheio de gíria, em alta velocidade, que ás vezes o torna ininteligível, o que também por si só é muito gozado. As referências que ele faz a vida de bairro, como quando ele cita os amoladores de facas que perambulavam pelas ruas antigamente, ou ao carro que compra ferro velho, têm um sabor especial meio nostálgico, principalmente pra mim, que estou chegando aos 40 e cresci numa casa no bairro da Ilha do Governador, subúrbio do Rio. Alguns termos que ele usa, como o clássico "XABLABLÁU", já incorporei ao meu dia a dia.
  São duas temporadas já, disponíveis no Youtube ou no próprio site do programa (Googleia aí...), vale a pena ver cada episódio. Sua busca incessante de patrocinadores nesses 2 anos, até o episódio especial em que ele finalmente acha um, o texto inteligente e tosco ao mesmo tempo são outros comemorativos do programa, que já foi premiado inclusive. Vou apenas falar um pouco sobre 3 episódios imperdíveis:

1) O Frango Total Flex: Vale a pena começar por esse, pois é o primeiro de todos e somos apresentados à figuraça do apresentador. O episódio tem como tema o solteiro, que acorda depois de meio dia e não sabe se toma café ou almoça. A introdução é engraçadíssima, e depois o já clássico " Olha pra mim...não tenho cara de quem vai te ajudar?", pergunta com o inescapável sorriso de conquistador barato carioca. E pra abrir com chave de ouro, o frango da receita está podre, teve que ser trocado, e isso realmente aconteceu, como ele relatou no Jô Soares tempos depois. Aí em  cima o vídeo...

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2) O Sushi de feijoada: Esse pra mim é o melhor de todos até agora. A premissa é o intercâmbio cultural Brasil-Japão, o texto é engraçado, a receita é daquelas que você não acredita que pode dar certo. A introdução, em que ele tenta cantar uma sambista com traços "orientais" é hilária, e o final apoteótico em que ele quase chora por falta de uma faca que preste para concluir a receita fazem deste o episódio perfeito. Veja aí em cima se não é verdade.


3) L'Uomo Club: O mote desse episódio em que o cara nos ensina a fazer drinks clássicos é que ele vai bebendo o que produz, e no final do episódio está travadaço, a fala lenta e empastada. Sim, ele bebe no programa, fuma e faz referências abertas ao uso de maconha: "...galerinha do fumo de rolo..." ou "você, que como eu, gosta de fazer uma fumaça: Vai lá, faça agora..." são expressões e frases que ele usa em outros episódios. Didaticamente também nos explica que o termo larica não se refere só a fome depois de fumar, é uma expressão do português antigo, que significa fome pura e simples.

O programa passa no Canal Brasil, sextas feiras, meia noite e meia...Isso aí, divirtam-se...;)

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Médico, anestesista, ateu e peão

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