quarta-feira, 20 de abril de 2011
   O "óleo doce do vitríolo", era como conhecia o éter sulfúrico o seu descobridor, o botânico alemão Valerius Cordus (1515-44), ao tratar álcool com ácido sulfùrico( o tal "óleo"). Nascido em Hesse, foi autor do famoso DISPENSATORIUM(1535) , publicado em Nuremberg, uma das mais afamadas coleções de receitas e as farmacopéias do Séc XVI, passando a história como a primeira farmacopéia oficializada. 
   O ácido sulfúrico suave foi descoberto pelo químico espanhol Raimundo Júlio(1235-1315) em 1275. Paralelamente o alquimista suíço Paracelso(1493-1541) descobria o efeito hipnótico do éter, mas só com o cientista germânico W.G. Frobenius é que passou a se chamar como tal.(1730).
   Michael Fraday havia notado, em 1818, que éter anestesiava como o óxido nitroso(gás hilariante do outro texto). Daí a começarem as festinhas com éter foi rápido. Era o lança perfume da época, ou seja, mais uma droga anestésica oriunda do desejo humano de ficar doidão, assim como o protóxido.
Morton, Thomas Green
   Agora aparece de verdade o herói de todos os anestesistas, o cara que conjugou tudo isso, com genialidade, engenho e uma pitada de sacanagem, e fez a primeira anestesia cirúrgica pública da História, em Boston, Massachussets:  o dentista William Thomas Green Morton.
    Roubando descaradamente a ideia de Horace Wells (lembram dele?), de quem foi discípulo e trabalhou em associação por um tempo, Morton experimentou éter num cão, que "amoleceu completamente em suas mãos e permaneceu insensível a todos os seus esforços para acordá-lo, mexendo nele e beliscando-o". Logo depois, o cão voltou ao estado normal, com a mesma vivacidade de sempre. Ele continuou com o cão, seus auxiliares e em si mesmo. Tentou arrumar cobaias em troca de uns trocados
   Dezesseis dias depois, em 16 de outubro de 1846(atualmente dia do anestesista), o dia D da anestesia moderna: No Hospital Geral de Massachussets, com uma platéia curiosa, o grande cirurgião John Warren retiraria um tumor venoso na mandíbula de um rapaz de 21 anos, Gilbert Abbot, sob anestesia geral. Um pequeno contratempo com o dispositivo que seria utilizado para a inalação do éter atrasou Morton, quase levando ao cancelamento do evento: "Como o doutor Morton ainda não chegou, suponho que deve estar ocupado com outra coisa", teria proferido Warren. Todos riram.
   Morton chegou esbaforido, aplicou a máscara no apavorado Abbot, e teria proferido solenemente o mantra dos anestesistas daí em diante, assim que o paciente perdeu a consciência: "Seu paciente está pronto, Doutor". O dispositivo não passava de um globo de vidro contendo uma esponja embebida em éter. Momento solene e tenso. Warren inicia a cirurgia e, para espanto da platéia pronta para ridicularizar Morton, o paciente não se mexe nem refere dor. Era um milagre! Warren dirigiu-se a todos: "Senhores, isto não é uma farsa!" O quadro aí ao lado é a reprodução mais famosa desse momento que mudou a história da cirurgia e por conseguinte, da medicina. Séculos e muito sofrimento passaram até que o homem aprendesse a dominar a dor. Não seria mais necessário que as cirurgias fossem feitas no máximo em poucos minutos, sob pena de perder o paciente por causa da dor.
    A notícia correu rápido, em 21 de dezembro daquele mesmo ano, Robert Liston, famoso  cirurgião apelidado "dedos de relâmpago", realizou a primeira cirurgia sob anestesia na Europa, no Universitty  College Hospital, Londres.  Liston era famoso por amputar uma perna em 2 minutos e meio.
    Muita coisa se passou desde então, mas nós, anestesistas, continuamos geniais e atrasados, como Morton naquele dia nublado de 1846...
  
 







1 comentários:

Unknown disse...

Legal!

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