quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Livro do Dário...
     Assunto amplamente debatido, merecedor de um capítulo inteiro no livro de um colega aqui da cidade, "A Estratégia Da Lagartixa" de Dário Vianna Birolini é o título do post. Aliás, quem se interessar, vale muito a pena , é a ótica do cirurgião e sua formação,com lances engraçados e assuntos que até abordei aqui, idênticos, que todos nós já passamos, enfim, é ótima leitura.
    Pretendia aqui passar como os médicos se sentem quado o jogo vira, e se tornam pacientes, com um pequeno exemplo na vida real: esse que vos fala...
  Geralmente o que vemos quando colegas tem as doenças nas quais são especialistas primeiramente é a negação. Quadro clássico do pneumologista ou cirurgião de tórax olhando seu próprio Raio X ou tomografia, a imagem escarrada de carcinoma, e o cara simplesmente não enxerga o óbvio.
Nós mesmos tratando de nós mesmos...
   Além da negação somos, em jargão médico, os maiores "tigres" da população em geral. Tigre, pra quem não sabe, é aquele paciente que simplesmente caga e anda para as orientações médicas e medicamentos...não faz nada do que é pedido e vai levando a doença aos trancos e barrancos. Pois é, surpresa, nós mesmos somos os piores pacientes, não vamos a consultórios, alegando falta de tempo, fazemos "consultas" de corredor, remédios prescritos de orelhada, interrupção de tratamento sem aviso, novos medicamentos incluídos também de qualquer jeito, ou seja, somos o que de pior pode se esperar de um paciente.
   No caso de uma doença mais grave, que necessite de uma intervenção mais séria, como cirurgias, nós somos a própria quintessência da Lei De Murphy...se algo tiver que dar errado em um procedimento, sempre acontecerá com um médico! É a famosa "ESMERALDITE". Complica sempre a cirurgia, a quimioterapia tem que ser interrompida por não adaptação, todos os efeitos colaterais, até os mais absurdos, sempre acontecem com os médicos e por aí vai a lista.
   O outro interessante fato de estar do outro lado é que podemos ver na pele como os pacientes se sentem, sendo inclusive um ótimo professor de ética em medicina. Aprendemos praticando a velha máxima de não fazer com os outros aquilo que não gostamos que façam com a gente.
Meu Fisioterapeuta
   Aí entra o exemplo deste humilde aspirante a blogueiro. Tenho um problema um tanto ou quanto grave em minha coluna cervical, degenerativa. Em poucas palavras eu tenho uma coluna cervical de um cara de 70 anos, acho que deu pra entender, né? Isso me faz, quando em crise, ter dores às vezes lancinantes em pescoço e braço direito, e eu CONTINUO TRABALHANDO com ela na maioria das vezes (aí a tal negação...). O tratamento, até agora, foi medicamentos de dor crônica e fisioterapia com meu troglodita predileto. É até engraçado, não troco meu fisioterapeuta por NENHUM outro, mas chamo ele de Jason e suas sessões de "Massacre da Serra Elétrica". São realmente um massacre, dá pra medir a macheza de um cara, mas já me tiraram de 2 crises e estão tirando de uma terceira. A fragilização, depressão, dificuldade de aceitação que ocorreram comigo até agora foram uma escola. Consigo ter uma ótica diferente quando um paciente tem dor, é mais fácil eu exagerar na dose do analgésico do que deixar alguém nessa situação.
Cuidado ao falar com pacientes é uma virtude...
    No que concerne ao meu caso, ainda não tenho uma conduta definida, se cirúrgica, se paliativa, mas um bom exemplo de como deve ser ruim a falta de sensibilidade com um paciente fragilizado ocorreu numa dessas consultas de corredor: mostrei minha ressonância mais nova a um super especialista de coluna de São Paulo, hiper bem indicado. Ele olhou o exame, riu na minha cara e perguntou se a pessoa que tinha dado o laudo do exame era minha amiga, pois ela tinha sido "perversa" no que escreveu. Eu disse que infelizmente era aquilo mesmo, eu tinha um exame anterior parecido...o cara viu que eu fiquei sem graça, adotou uma postura séria e disse que ia se empenhar em me ajudar. Até que ele foi bacana, mas que a risada inicial me deixou sem ação, isso deixou...
   Um dos fatores que me levou a escolher a anestesia como especialidade é que os pacientes não tem memória do que é falado no centro cirúrgico, e isso pra minha boca suja é uma benção. Mas tenho bastante cuidado para NUNCA fazer juízo de valor sobre a pessoa que está ali deitada, tenha ela 270 quilos ou nariz de bruxa, chata ou  pedante, consigo criar uma barreira mental para dar a todos o mesmíssimo tratamento...

4 comentários:

nerci disse...

O pior aluno é sempre o professor. Acredite!
Abraço

lilianbuzzetto disse...

Acho que isso não é algo exclusivo da medicina. A velha máxima "em casa de ferreiro, espeto de pau" vale para todos.

Tente, por exemplo, dar aula a professor - ele não segue a missa metade do que recomenda. E conheci vários policiais que foram assaltados por não prestar atenção ao redor antes de entrar no carro.

Falar, aconselhar, recomendar, orientar é fácil...

Nat's disse...

Ops...
Voltando... Mto boooooooooom!
Eu trabalho com oncologistas.. sei bem como é!

Flavia Liv disse...

engraçado, ontem eu tava vendo um episodio do House que tratou desse assunto, quando a 13 não queria saber se tinha a mesma doença da mãe, doença de huntington, ai o house puxou a orelha dela falando que os médicos são os piores pacientes. Bem, melhoras ai para sua coluna, isso deve ser foda!

Quem sou eu

Médico, anestesista, ateu e peão

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