sábado, 25 de setembro de 2010
Carrinho Jullien, da Dragger
Carrinho que a gente usava na maioria das salas
   Outra coisa que estranhamos um pouco foi a riqueza do La Pitiè, um hospital da assistência pública de saúde de Paris. Conhecíamos a maioria da aparelhagem disponível, mas não estávamos acostumados a vê-los todos juntos, vindos de nossa realidade de residentes de hospital federal no Brasil, e tínhamos pouca prática em alguns deles. Alguns só fomos ver no Brasil 10 anos depois... A anestesia começava na recuperação pós anestésica, enquanto o cirurgião se "aquecia" na sala com um procedimento "menor". O doente era anestesiado, feita monitorização invasiva na RPA, e depois levado à SO com o monitor que ia ficar com ele durante a cirurgia.
   A estrutura do pré operatório também era diferente, o Hospital era quase um bairro, dividido em "blocos" ou "prédios", cada um de uma especialidade. Em cada bloco só havia a equipe de cirurgia daquela especialidade e a equipe anestésica, que faziam TODO o trabalho de pré e pós operatório, não havendo outra especialidade. Fazíamos tanto a consulta pré op. com todos os exames como o plantão na UTI pós op.
Bagunça de línguas na Torre
   Chegávamos de manhã e a SO já estava prontinha pra começar, pois mais cedo chegava o enfermeiro anestesista, uma entidade que não existe por aqui. Eles faziam a faculdade de enfermagem e mais dois anos de anestesia, eram ótimos profissionais, discutiam casos de igual pra igual com qualquer anestesista médico, e faziam a maioria dos procedimentos. Na França havia a particularidade de a anestesia ser mal paga, atraindo muitos médicos e enfermeiros de fora pois os franceses não faziam muito essa especialidade. Em nosso bloco havia romeno, belga, tunisiano, argelino e nós do Brasil de estágio, uma Torre de Babel.
Nosso cirurgião predileto.
   A maioria dos cirurgiões era tranquila, mas demos a sorte de cair no bloco da maior cavalgadura da França. O cara xingava enfermeira de "vadia", jogava pinças nas mesmas, dava esporros na anestesia, já vimos o cara despedir uma auxiliar em plena cirurgia, enfim um ser fino e iluminado. Meu colega imitava ele dando esporro com a voz do Pato Donald, dando aqueles pulos e socos no ar...
Nossa Chefe na Vascular
   Nesse sentido, a outra figura que conhecemos foi a Chefe da anestesia no bloco da vascular. Ela não nos deixava tocar em nenhum aparelho, mas no paciente não tinha problema, podíamos intubar, puncionar, invadir a vontade que não havia problema. Mas era se aproximar de uma máquina que ela falava como se conversasse com aborígenes que não mexêssemos. Devido a semelhança, apelidamos a mesma com o nome de um conhecido personagem da TV...

2 comentários:

Edilene Ruth disse...

Adoro suas histórias em capítulos!!! E Paris nunca me foi tão divertida como desta vez!!
Adorei!!
Beijão, Edilene
Http://devaneiopulsante.blogspot.com

nerci disse...

Uma vez tupiniquim, sempre tupiniquim!
Bom humor faz parte da nossa história. Talvez, seja a melhor parte. Sei lá!
bjs

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Médico, anestesista, ateu e peão

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