quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Encarando a morte...
Eutanásia vem de "EU"(boa) e "THANOS" ou THANATOS(morte), boa morte, o que será que isso significa? Parece meio óbvio, e é óbvio, boa morte seria a morte com dignidade, sem sofrimento, cercado por aqueles que o amam. Algumas considerações:

1) Nossa legislação é muito vaga e atrasada no que tange a proximidade da morte. Nos é vedado deixar de prestar atendimento em caso de por exemplo uma parada cardíaca, qualquer que seja o diagnóstico e , principalmente, o prognóstico do paciente. Existem sim cuidados paliativos para evitar o sofrimento, mas até quando prolongar uma vida se o paciente tem prognóstico reservado. Oficialmente não podemos desligar máquinas, parar infusões ou deixar de ressuscitar quem quer que seja.

À espera de um Milagre
2) Devido ao grande número de cristãos em nosso meio, por causa do conceito de "milagre", deixamos pacientes terminais vivendo indefinidamente à custa de drogas e respiradores, à espera de um. Quantas pessoas tem finais de vida indignos para que uma, de vez em quando, tenha uma recuperação "milagrosa"? Isso vale a pena? Parece que atualmente, no Brasil, há uma onda de conscientização sobre o tema, bom para doentes, familiares, Estado.

Sofro só de pensar em sofrer ...
3) Será que a vontade do paciente não conta? Sei que seria logisticamente difícil conseguir este tipo de autorização de uma pessoa saudável, mas deve existir uma solução para que a vontade do paciente seja respeitada na pior hora de sua vida. Sinceramente, já falei que se eu me encontrar numa situação de morte iminente, por favor me encham de morfina e me deixem morrer em paz, próximo da minha família.
A morte de cuecas
  Existem dois tipos de morte durante uma anestesia, aquela do paciente grave, terminal, em que a morte já é esperada para as próximas horas ou dias, e a outra é aquela do paciente que entra bem pra cirurgia, e por um acidente ou falha qualquer, morre durante o procedimento. Essa última é sentida por nós, que participamos negativamente nos últimos momentos. Seria como ser pego de calças curtas...

E você, como quer morrer?
   Bom é isso basicamente, a ideia desse post é tão somente despertar a reflexão, e é basicamente a MINHA opinião, que como eu sempre digo, não vai mudar o mundo. Um abraço e até o próximo...





A morte é a curva da estrada.
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
     A terra é feita de céu.
     A mentira não tem ninho.
     Nunca ninguém se perdeu.
     Tudo é verdade e caminho
.

Fernando Pessoa

5 comentários:

MadaFoka disse...

Thanus é o nome do meu filho. :P
Eutanasia deveria ser liberada. Principalmente se o paciente tiver documentado essa vontade com antecedencia.

Edpalo disse...

Acho que cada um deveria ter o direito de escolha nessas cicunstâncias...o papel do médico teria que ser o de apazigar o sofrimento, antes de qualquer credo particular o dever é com o paciente...todo mundo devia ter o direito de uma morte digna...Meu vizinho por exemplo...coitado...sofre de um mal incurável...piano..hum...como toca mal o maldito, arrombado, filho de uma grande puta...e alto...acho tão indigno acordar morto boiando no Tietê...muito mais humano seria um tiro de bazuca aqui da minha janela...com a popularização dos artefatos bélicos tudo se tornou mais fácil...ligas cerâmicas muito resistentes, leves, eficientes..bom...deixa prá lá..

"Eu particularmente queria morrer que nem meu avô...dormindo..e não gritando desesperadamente feito as pessoas que estavam no ônibus que ele dirigia." (6)

Abs...parabéns pelo artigo Doc. Hugo .

Miss disse...

É uma decisão dificil. Morrer ou continuar vegetando? Não consigo definir qual seria minha posição em relação a isso sendo um ente querido meu. Talvez meu egoísmo nesse momento seja maior do que minha capacidade de raciocinar logicamente. Espero nunca precisar tomar uma decisão dessas.

Tiro disse...

A questão é que o estado só é laico no papel.

Na prática, a força dos dogmas religiosos é tão forte, que é difícil para os políticos que precisam de votos, comprarem esta briga e legislar a favor da independência de pensamento e liberdade de decidir da família ou do paciente.

É o mesmo caso do aborto.

Ninguém pede pra morrer à toa. Niguém gostaria de enfrentar um aborto. Ninguém gostaria de viver com a lembrança de ter tomado decisões tão dolorosas. Isso é óbvio.

Mas o cidadão livre deveria ter o direito de optar.

Nat's disse...

Eu não sei lidar com a morte. Procuro nem pensar nela.
Mas, morte digna é direito de todos. E todos aqui em casa já sabem: Não "viverei" vegetando e terei meus orgãos doados.

Quem sou eu

Médico, anestesista, ateu e peão

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