sexta-feira, 3 de setembro de 2010
foto minha após peridural...
   Bom, pra terminar esse serviço de utilidade pública (espero...), vou falar de outro mito (ou não...) da anestesia para a população leiga que é o medo que ronda a anestesia condutiva(raque ou peridural). Antes de mais nada, me submeti a uma peridural algumas semanas atrás numa tentativa de melhorar minha dor na coluna cervical, o que me deu um bom alívio por algum tempo, então falarei com maior conhecimento de causa. Um pouco de história:

   Em 1884 Sigmund Freud estudava os efeitos estimulantes da cocaína no sistema nervoso central. Carl Koller percebeu que a amostra de cocaína recebida de seu amigo Freud, ao entrar em contato com a língua, a deixava anestesiada. Percebeu ali a possibilidade de utilização de uma solução de cocaína para aplicação tópica em cirurgias oftalmológicas. Koller conduziu então, juntamente com Gustav Gartner estudos com sucesso em olhos de sapos, coelhos e cachorros. Tendo sido uma das primeiras aplicações dos anestésicos locais.
August Bier
Em Dezembro de 1884Willian Halsted e Richard Hall realizaram bloqueios de nervos periféricos bem como do plexo braquial.
August Bier utilizando-se da técnica descrita por Heinrich Quincke realizou a primeira cocainização deliberada da medula espinhal. Permitiu inclusive que seu assistente, Hildebrandt, realizasse uma punção lombar nele mesmo. Em seguida os papéis se inverteram e Bier realizou uma punção em Hildebrandt. Ambos apresentaram cefaléia após a experiência. A cefaléia inicialmente fora atribuída às comemorações pelo sucesso em obter anestesia com a técnica empregada. Mais tarde ficou mais claro que a cefaléia pós punção da dura-máter relacionava-se à perda de líquor pelo orifício realizado. August Bier e Theodor Tuffier dividem o mérito do início da então chamada raquianestesia (fonte: Wikipédia)

  Os maiores anseios que rondam essa anestesia são a dor de cabeça (cefaléia pós raque) e os sintomas neurológicos) . Todo mundo tem uma avó ou tia velha que contam histórias do sujeito que ficou paraplégico após tomar uma raque.

   A incidência de sintomas neurológicos é baixa e são na maioria das vezes transitórios, são complicações inerentes ao procedimento, pois todo e qualquer procedimento em medicina tem riscos, por menores que sejam.
exemplo de agulha utilizada na anestesia condutiva
O tamanho das agulhas utilizadas assusta a população leiga, pois são obviamente bem maiores que as agulhas tradicionais, sem as quais seria impossível acessar os espaços pretendidos na coluna.
   Lembro de uma vez, quando começou o hábito de deixar os pais entrarem em salas de cirurgia para assistirem os partos de seus filhos, eu fui fazer uma raque para uma cesariana e o pai segurava a mão da gestante, sua esposa. Quando eu saquei a agulha de raque e ele a viu, caiu por cima da mulher desmaiado, derrubou minha bandeja de bloqueio e quase derruba a mãe, foi um escarcéu na sala. Ainda tive que escutar, após melhora do pobre pai, os xingamentos da esposa chamando ele de "viadinho" pra baixo. Após este fato, passei a permitir a entrada dos pais somente após a anestesia realizada e a paciente preparada e coberta com os campos.
Cuidado com o que fala com o anestesista...
  Procuramos sempre que possível sedar bem os pacientes antes da punção, para oferecer conforto e amnésia. Este procedimento pode levar a algumas "confissões" constrangedoras . Uma vez entrou em sala um paciente que ia fazer algum procedimento ortopédico, não lembro qual, com raque. O cara era muito forte, tatuado, causou frisson entre as auxiliares de enfermagem. Sedei o cara, virei ele de lado e anestesiei. Após o início da cirurgia, ele acordou e começou a falar. Quanto mais eu sedava , pior. A certa altura, o cara começou a falar que eu era lindo, que se me pegasse acabava comigo, que eu era gostoso, etc. Começaram os risos na sala, e eu não tive outra opção senão passar a anestesia pra geral...Já tinha visto muita coisa, mas sair do armário na minha frente foi a primeira...

4 comentários:

Carla disse...

HAHAHAHAHAH, ÓTEMA.

Eu já tomei uma peridural, mas sem sedação, só "anestesia" local. Anestesia bem entre aspas pq doeu pra caramba aquela agulha gigante. O pai da minha filha assistiu e ainda riu da minha cara, o sem-vergonha :P

Aliás, pai que desmaia já na hora da agulha n resiste à cesárea inteira, né? Hahaha.

nerci disse...

hahaha que história é essa de confessar os pecados? Essa raque já tomei e nem achei assustadora. Com a dor do parto nem reparei no tamanho da agulha.Nem lembro se tinha anestesista rs

Edilene Ruth disse...

ahuahauhauhauahuahaua

Olha, não consigo parar de rir com a história do fortão que saiu do armário!!!

Beijão, Edilene
http://devaneiopulsante.blogspot.com

Frava disse...

hauihaihaihaihaihiahuiahiua muito boa a historia do fortao inrustido! =PP

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Médico, anestesista, ateu e peão

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